Dia das Mães e a Tripla Sorte

Deus sabia tanto que eu seria um moleque difícil, que em algum momento deve ter pensado: “esse aí vai precisar de pelo menos 3 mães”.
Pois bem.

Sorte 1, de 3: "Zica"



Essa é aquela que me deu a vida, que me ensinou o quanto batalhar é importante; que me ensinou que a gente fica sem dinheiro, mas honra a palavra e não fica devendo ninguém; que me fez passar por todos os "jargões tradicionais de mãe", dos melhores aos piores: do "meu filho, você é o menino do dez" (mesmo que eu nunca tenha sido) até o "se eu for aí e achar, vou passar na tua cara" (o que me ensinou a ter independência, foco e responsabilidade, kkkkkk!).
Te amo, mãezinha.
Entre nós, mais de um Oceano Atlântico de distância e mais de uma década de não-convivência, mas sempre terá um tanto de ti batendo aqui dentro de mim. Obrigado por tudo.

Sorte 2, de 3: "Finha"


Essa é aquela que, com um coração gigante, segurou todas as pontas do (nosso) mundo com uma leveza de ser incrível; aquela cujo amor que tem dentro de si é tão grande que transborda, vai além do nível dos filhos, invade e alcança netos, bisnetas, sobrinhos; aquela com quem morei metade da minha vida; aquela que, nos piores momentos, sempre teve um pedacinho da palavra do Papai-do-Céu pronto pra ser dito e que sentia a maior felicidade do mundo de ver aquele moleque indo à Escola Dominical; que não media esforços em me receber em casa pra eu ter condições de estudar e "ser alguém na vida", como sempre dizia; que fazia "das tripas coração" pra não deixar faltar o mínimo, mesmo quando tudo que ela tivesse no final do mês também fosse "o mínimo" (até hoje nem sei como ela conseguiu, com tão pouco!); aquela que enfrentou barras gigantes e, do seu jeitinho simples, nunca desistiu de dar o melhor; aquela que pode não gostar de cozinhar, mas que é especialista em nos dar os melhores alimentos de alma com a fala doce e o coração mais bondoso que já vi.
Te amo, minha Finha. Obrigado por tudo.

Sorte 3, de 3: "Tiquinha"


Das três, a única que já não está mais aqui. Depois de 98 anos de muito batalhar e criar os de sangue e os de afeto, foi-se embora pro Papai-do-Céu. E, mesmo sem estar fisicamente aqui há tanto tempo, as marcas na minha formação foram tão intensas, que ela se faz presente todos os dias, com as lições que vinham sempre naquele jeitinho bravo e amoroso em simultâneo, seu paradoxo e marca registrada. A nossa "piquêna” de “san migué du guamá", na fala peculiar dela. Aquela que sempre esperava eu chegar da faculdade ou do trabalho, e me recebia com um irônico e engraçado “perdeu o rumo de casa, sinhô?”; aquela cujo afeto comigo – em forma de preocupação, segurando sempre um terço e rezando – nunca tinha fim; aquela dos melhores ditados e expressões; aquela da melhor e mais gostosa gargalhada do mundo; aquela que contava dos seus duros tempos de miséria, de não ter o que comer (e por isso amar chibé e caribé até os últimos dias de vida), mas que no final da história sofrida conseguia ter sempre um riso engatilhado, demonstrando um senso superior que só quem se moldou nas agruras da vida me parece conseguir desenvolver; a melhor professora de História (sem nunca ter se formado, vivendo a História na prática, não a dos livros); a que não sabia o que eram Almirante Barroso, José Malcher, Bernardo Sayão, mas sabia muito bem o que eram Tito Franco, São Jerônimo e Estrada Nova; a que não ia no Comércio, ia “lá em baixo”; aquela que contava as melhores histórias “baseadas em fatos reais”, incluindo ter visto a Matinta-Perêra assobiar pra ela no meio do mato; aquela que tava sempre segurando o terço e rezando por mim naquele quartinho; aquela com quem morei e tive a maior e mais incrível parceria de todas; aquela que era a minha confidente; aquela para quem EU era o confidente; a responsável pelo melhor feijão preto do mundo; a que implicava com minhas namoradas, e que quando batia o olho em uma, dizia em sinceridade máxima: "essa daí não vai dar certo contigo" (e nunca errava, embora ela não quisesse ver que eu era sempre o culpado, no final); aquela que tinha o maior orgulho do mundo em dizer que eu havia passado no “vitibolá” e, anos depois, dizer também que eu era “trabalhadô do guverno", quando fui aprovado no meu primeiro Concurso Público. O meu amorzão.
.
Te amo pra sempre, minha Tiquinha. Obrigado por tudo.
"These were the best of times
I'll miss these days
Your spirit lit my life each day
My heart is bleeding bad
But I'll be okay

Your spirit guides my life each day"

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